Olimpíadas de Berlim


A infusão dos esportes na política: 1936, Hitler e suas Olimpíadas

Quem poderia imaginar que, após ser rejeitado na Academia de Belas Artes de Viena, Hitler trocaria seu sonho de se tornar um artista para se tornar um dos líderes mais sanguinários da história, sendo a principal imagem do movimento nazista.

Após servir na Primeira Guerra, Hitler se envolve com o Partido Nacional Socialista, se tornando seu principal orador. Após sua prisão, por sua participação no fracassado golpe conhecido como Putsch da Cervejaria, e junto ao lançamento do seu livro ‘Mein Kampf’, Hitler passa a ganhar mais importância no partido e em 1933, passa de Chanceler para Führer.

Determinado a mostrar o poder do regime, desde sua posse ele lutou para a Alemanha sediar os Jogos Olímpicos de verão e inverno em 1936, e com sucesso, temos Berlim como o local escolhido para sediar as Olimpíadas, resultando em uma grande série de investimentos no país.

Folha da Noite falando sobre os investimentos na parte das piscinas
Folha da Noite falando sobre os investimentos na parte das piscinas.

O professor e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica, Roberto Coelho, conta que Hitler mobilizou cerca de três mil trabalhadores para fazer as Olimpíadas acontecerem, transformando o antigo jockey em Berlim em um parque olímpico ultramoderno. “Eu acho que a primeira coisa que a gente tem que falar sobre essa ideia política e essa ideia de propaganda, que foi essa Olimpíada, é a modernidade realizada ali naquele momento, uma ideia de plataforma de propaganda política” diz o professor. Esse grande investimento no parque olímpico, transformaria Berlim, na sede mais moderna, até o momento, da história das Olimpíadas.

Toda essa modernidade, não se resumia somente a isso, com as inovações tecnológicas de transmissão também sendo um trunfo desses. “Foi a primeira vez na história que a transmissão da Olimpíada foi feita por TV. Foi transmitido também por 300 rádios. Então houve um mega evento esportivo pela primeira vez sendo televisivo” relata Roberto. Ele conta que na cidade de Berlim foram colocadas 28 salas de TV, mesmo a TV sendo um negócio novo, e que havia 150 mil pessoas assistindo, sendo, sim, um evento de propaganda política.

Folha da Noite exaltando Jesse Owens
Folha da Noite exaltando Jesse Owens.

Esses jogos foram um sucesso para os alemães, no quadro de medalhas, o país ficou na primeira colocação, com 90 medalhas no total (sendo 34 de ouro, 26 de prata e 30 de bronze). O segundo lugar ficou com os Estados Unidos, conquistando 56 medalhas, entre os atletas norte-americanos, o destaque foi Jesse Owens, um jovem negro que conquistou quatro medalhas de ouro, desafiando diretamente a ideologia racista nazista.

O sucesso propagandístico de Hitler foi duplo, primeiro, a vontade de exaltar a ‘raça ariana’, transformá-los em uma figura superior, e em segundo, ao mostrar ao mundo uma Alemanha forte e moderna, pronta para liderar em tempos de paz. "A ideia era mostrar a grandeza da Alemanha pós-Primeira Guerra Mundial", explica Coelho.

Até 1939, o marketing dessa imagem positiva da Alemanha perdurou, mas com o início da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha passou a ser vista como inimiga mundial. O professor comenta: “Eles [resto do mundo] acharam ótimo. Os elogios eram todos. ‘Maravilhoso. Que lugar. Que estrutura’ Foi tudo muito elogiado em 1936. Já em 1939, a Alemanha é a persona non grata do planeta. Ela atacou a Polônia e então, em 1939 o Hitler é a pior pessoa do mundo”.

Traçando um comparativo entre o quadro de medalhas, e o sucesso com as propagandas, temos os Estados Unidos também usando a imagem de um atleta para o marketing, e novamente temos a estrela Jesse Owens, que acabou sendo bem explorado pelo fato de ser o principal símbolo do ‘anti-ariano’, e ter ganho quatro medalhas na edição alemã.

Descrição de Jesse Owens feita pela Folha da Noite
Descrição de Jesse Owens feita pela Folha da Noite.

A propaganda com ele deu muito certo e hoje pouco se fala nos atletas que ganharam mais medalhas que ele, como Hendrika Mastenbroek, Konrad Frey e Elizabeth Robinson. “Jesse Owens conquistou quatro medalhas de ouro, e os Estados Unidos rapidamente aproveitaram isso como uma ferramenta política e propagandística. Eles destacaram: 'Veja, um atleta negro americano triunfando no coração da Alemanha nazista, desafiando diretamente a ideologia ariana'.”, conta Roberto.

Esse caso das Olimpíadas de 1936, em Berlim, é considerado um dos, se não o primeiro caso de Sportswashing.