O mundo árabe, e a crescente nos eventos esportivos por lá

Como já falado na introdução do site, o campeonato saudita vem ganhando muita notoriedade, isso graças ao aumento da competitividade da liga, com a ida de competições e craques do mundo todo.

Nomes como: Cristiano Ronaldo - um dos maiores jogadores da história e que está em busca de seu milésimo gol; Neymar - um dos principais nomes da seleção brasileira desde 2012; Karim Benzema - centroavante francês com a prateleira repleta de títulos, inclusive uma Bola de Ouro - Roberto Firmino, um dos melhores brasileiros a atuar liga mais difícil do planeta, a Premier League - são alguns exemplos que levaram essa notoriedade ao mundo árabe no futebol.

A Arábia Saudita é um país regido pela monarquia absolutista, tendo como governante o príncipe Mohammed Bin Salman. O local possui uma riqueza acumulada através da comercialização do petróleo, gás natural e da sua posição geográfica. Além disso, querendo se tornar uma potência também no esporte, comprou um clube de futebol na Inglaterra e levou o maior esporte automobilístico para seu território, visando divulgar o projeto de poder deles e atrair o olhar do mundo ocidental.

Recentemente, uma questão que veio a ser muito debatida, foi a possível ida da estrela brasileira Vinícius Júnior para o campeonato árabe, em que ele receberia cerca de 1 bilhão de euros, por cinco anos de contrato. Isso o colocaria como o jogador mais bem pago da história dos esportes, e como a transferência mais cara também.

Esse dinheiro sairia do Fundo de Investimento Público (PIF), que pertence ao governo saudita e tem mais de 900 bilhões de dólares. A transferência do Vini Jr., não passaria de 1% do valor total do PIF, e ainda traria mais atenção ao futebol e entretenimento do mundo árabe.

Outro investimento gigantesco realizado pelo PIF, foi a compra do Newcastle United F.C., time que disputa o título da Premier League (campeonato inglês), e possui craques no elenco, como Alexander Isak, centroavante titular Newcastle, e da Suécia, e Bruno Guimarães, campeão inédito da Copa do Brasil pelo Athletico-PR, e atual meio-campista da seleção brasileira. Segundo a imprensa britânica, a compra girou em torno de R$2,2 bilhões e colocou o Newcastle na prateleira dos clubes mais ricos do mundo.

Essa aquisição gerou diferentes opiniões entre os torcedores. Enquanto uma grande maioria de torcedores do Newcastle se reunis em frente ao St. James’ Park para comemorar a nova fase do clube, outros torcedores viram a compra como algo negativo, reconhecendo a violação de direitos humanos que acontece na Arábia Saudita. Esse é o caso de Andrew Page, torcedor apaixonado pelo time e criador do projeto ‘NUFC Fans Against the Sportswashing’. "Parecia que os torcedores só queriam entregar tudo para a Arábia Saudita. Era como se um clube de futebol fosse ser jogado fora, e eu não queria isso de jeito nenhum. Fiquei muito insatisfeito. Algumas pessoas diziam: 'Pelo menos nos livramos do antigo dono, ele era terrível'. Achei que, quando conversássemos pessoalmente, talvez fosse diferente do que vemos online, mas todo mundo estava muito feliz, comemorando, como se tivéssemos acabado de ganhar o campeonato.", disse Andrew.

Seu projeto é denominado como um grupo de torcedores do Newcastle United que são contra a propriedade saudita do clube, querendo recuperar o clube. Segundo ele, suas crenças e propósito podem ser resumidos em quatro objetivos: “Apoiar os direitos humanos, solidariedade com ativistas sauditas, se opor ao sportswashing, e recuperar o jogo”.

A criação desse grupo surgiu durante a fase final da pandemia, quando as especulações sobre a compra do clube pelo Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita estavam ganhando força. Andrew encontrou outros torcedores com o mesmo pensamento por meio de fóruns e mensagens online. O torcedor conta que já sabia que ele seria uma minoria, e diz que pesquisas da época mostravam que em média 97% dos torcedores eram favoráveis ao investimento árabe no clube.

Esses números comprovam a eficácia que o Sportswashing tem sobre a população. O alto índice de aprovação da compra do Newcastle, financiada por um fundo de investimentos de um país marcado por violações de direitos humanos, revela como muitos torcedores ignoram ou relativizam abusos como tortura, perseguições e execuções, desde que o time receba um investimento de mais de R$ 2 bilhões, por 80% do clube.

No site da organização, Andrew e seu grupo expõem sobre o caso de uma garota considerada terrorista por lutar pelos direitos das mulheres na Arábia Saudita. Eles também publicam algumas revistas digitais com estatísticas sobre perseguições a grupos LGBTQIA+ nos países árabes, e analisam a Copa do Catar, país onde novamente temos a proibição de pessoas homossexuais, e também sobre outras várias violações, como execução de pessoas que lutam contra o governo.

O movimento NUFC Fans Against Sportswashing ganhou força desde sua criação, apesar de ainda ser pequeno. Page compartilha algumas das ações já realizadas: “Fizemos um protesto no último jogo, pouco antes da Copa do Mundo, havia alguns de nós do lado de fora do campo, tínhamos uma faixa lá, fizemos outro protesto quando a Arábia Saudita jogou dois amistosos no St. James's Park, em Newcastle.” Ele complementa ao contar que tiveram reuniões com Andrew Feinstein, que faz campanha contra o comércio de armas. “Nós temos, você sabe, um site, temos fanzines, lançamos quatro fanzines. Escreveremos para deputados e vereadores dizendo: 'Você pode falar e dizer algo sobre os direitos humanos na Arábia Saudita? Esse é o tipo de coisa que fazemos”, finaliza o torcedor.

O exemplo do Newcastle, é só mais um no meio de tantos outros, que acabam desviando a nossa atenção de tantas atrocidades, por meio do esporte. Por isso organizações como a de Andrew, tem que ter muito mais visibilidade e apoio, pois elas evidenciam crimes que passam muitas vezes despercebidamente por nós.